Faltam 192 dias para o Congresso do
Centenário de Alziro Zarur a realizar-se
na Cidade do Rio de Janeiro,
no dia 18 de outubro de 2014.
Faltam 259 dias para o Centenário do
nascimento de Alziro Zarur.
Poema da Busca Infinita
DEUS me perdoe, mas não há nada pior
Do que ter um espírito curioso
A decifrar o enigma religioso,
Podendo fazer coisa bem melhor!
Por exemplo, o meu caso é de doer:
Quando tudo parece que vai bem,
Uma dúvida surge. E, mais além,
Vem outras e mais outras. Que fazer?
Hereditariamente fui católico,
Católico apostólico romano,
Embora ancestralmente mulçumano
E, por sinal, sem nada de apostólico.
Ora, acontece que eu, bisbilhoteiro
Entre os que mais o sejam neste mundo,
Com ares de um espírito profundo,
Fui mexer (imprudente!) no vespeiro.
Basta dizer-lhes, por meditar
No sexo - que é o crucial problema humano -
Achava um sacrifício desumano
Essa história de padre não casar.
Que tinha a ver com isso, não é mesmo?
Não estava, entretanto, em minha sina
A fé que não pergunta ou raciocina -
Essa cômoda fé que vive a esmo.
Daí por diante, a dúvida aumentou:
Os dogmas começaram a irritar-me.
No catecismo, a turma deu o alarme,
E o padre Sebastião me censurou.
Nem foi preciso mais. Nunca aceitei
Castigos e carões sem procedência.
E não quis saber mais da penitência:
As aulas do vigário abandonei.
Como a probre alma humana se transforma!
Tangido pelo instinto religioso -
Este anseio congênito imperioso -
Abracei os princípios da Reforma
Que diferença, para ser sincero!
Horizontes mais amplos se me abriram,
Junto àqueles "hereges que faliram,
Ouvindo as cantilenas de Lutero: .
O livre exame, embora seja "um caos",
Como dizem amorfos pensadores
Que pensam pelo crânio dos doutores,
Destrói tabus, fanáticos e maus.
Sem falar na exegese luterana,
Pois não tenho a pachorra do exegeta,
A doutrina evangélica é faceta
Na liberdade soberana.
Não suponham que eu seja um radical
Prosélito da Pena de Talião:
Há os padres de adorável formação,
De uma serenidade angelical.
O que eu detesto é aquele velho ranço
Da Idade Média inquisitorial,
Que assanha a truculência clerical
De tanto sacripanta e manipanso.
Mas - voltando ao assunto - examinei,
Com toda a liberdade concebível,
A minha Velha Bíblia inesquecível,
De tal modo que quase a decorei.
E foi assim que a dúvida, esse rato
Que rói o nosso espírito sem dó,
Olhou atrás, como a mulher de Ló,
Varão hebreu de espírito pacato.
Como explicar, ó grande DEUS Eterno,
Tantas desigualdades sociais,
Se não sois de atitudes parciais?
E para que criastes vós o inferno?
Se todos temos uma vida só
Para cair no inferno ou ir ao céu,
Por que tantos canalhas sem labéu
E a prova impiedosíssima de Jó?
Mendigos a gemer em lindas portas,
Enquanto ricos maus se banqueteiam;
Crianças que farturas alardeiam,
E míseras crianças natimortas;
Pretos e brancos; nobres e plebeus;
Genialidades e ignorâncias crassas -
Tudo isso não abona as vossas graças
De Criador perfeito, ó grande DEUS!
Como a pobre alma humana se transforma!
As dúvidas venceram, e concluí -
Pelas contradições que surpreendi -
Que a Reforma requer outra Reforma.
E passei alguns anos de descrença,
Num materialismo insatisfeito,
Embora ouvisse, ainda, no meu peito
A voz consoladora e ideal da Crença.
"Quem sabe se não é o Positivismo
A solução de todos os tormentos? "-
Perguntava a mim mesmo, nos momentos
De pertinaz e agudo ceticismo.
E lá fui eu analisar, com ânsia,
A doutrina genial de Augusto Comte,
Cujos ensinamentos são uma fonte
De ciência pura, em plena concordância.
Rompendo metafísicos traçados
Que erigiram fé cega em axioma,
Sobre todas as leis avulta e assoma,
Resplandecente, a lei dos três estados.
A base da doutrina era feliz:
O que interessa é o como, não o por que
Dos fenômenos que ela estuda e vê,
Para evitar suposições pueris.
Mas não cheguei a ser positivista
De sérias convicções inabaláveis,
Porquanto as conclusões mais ponderáveis
Limitavam meu campo de analista.
Esse era, para mim, o grande mal:
Sem resolver mistérios milenares
Que se contam, sem dúvida, aos milhares,
Sustavam meu progresso espiritual.
Pois eu sentia, aqui no coração,
Sem de maneira alguma o provocar,
o desejo incoercível de buscar
Uma definitiva solução.
Enigmas decifrar - eis minha sina!
Porque a Religião da Humanidade
Há de se superada, na verdade,
Por uma Ciência ou Religião Divina.
Mas até onde irei, neste mister
De devassar os páramos profundos,
Nesta sofreguidão de novos mundos?
Que seja tudo com DEUS quiser.
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