quinta-feira, 23 de abril de 2009

ALZIRO ZARUR - A FORÇA OCULTA

Ele já fez declaração de bens e afirma que não haverá composição que possa alijar sua candidatura em 65. Numa entrevista na qual se declara futuro Presidente da República, disposto a não ter vice na sua chapa – nem vice, nem vice-versa – e ainda fazendo pela primeira vez sua declaração de bens, restrita às ações da Rádio Mundial e das peças íntimas de sua indumentária, Alziro Zarur falou a Fatos & Fotos. A entrevista foi concedida depois do entrevistado impor uma condição ao repórter: as perguntas teriam de ser formuladas no microfone do auditório da Rádio Mundial, diante de uma platéia que não perdoaria perguntas mal intencionadas. “Faço isso – disse Zarur, em tom de desculpa – por considerar certos jornalistas verdadeiros treponemas pensantes, que desvirtuam o que a gente diz...”. Com 49 anos de idade, o Presidente da LBV é o mais novo candidato à Presidência da República.

P – Alziro Zarur, Presidente da LBV, escritor e jornalista profissional, no decorrer desta entrevista, como faz questão de ser tratado: “você”, “senhor”, “doutor”, ou “irmão”?
R – Eu prefiro o tratamento de irmão-operário, que é o maior título de minha vida. O resto é vanitas vanitatum. Porque JESUS, vindo ao mundo, quis apenas ser um humilde operário carpinteiro. E se JESUS é operário, foi apenas operário, porque vou querer ser mais do que isso?

P – Diga, sinceramente, irmão-operário Zarur, por que resolveu candidatar-se à Presidência da República?
R – Todos sabem que eu sempre tive alergia a essa história de política. Quem quisesse me tirar o bom humor que me falasse em política. Quando vinham me convidar para ser candidato a vereador ou deputado, eu respondia: “A porta do elevado é ali”. Por que agia assim? Porque o que havia no Brasil nunca foi Política, nunca houve Política neste país com “P” maiúsculo. Eu considero que só vai haver POLÍTICA agora, com o PARTIDO DA BOA VONTADE. Quando chegou a hora e eu senti que o povo queria me ver candidato, eu aceitei ser candidato, mas nunca me candidatei, pois não sou candidato de mim mesmo.

P – Qual o número exato de candidatos catalogados pela LBV, irmão-operário Zarur?
R – A rigor seriam 600 mil. Mas isto não espelha a realidade. Uma vez Henrique Pongetti, para definir a popularidade da Legião, disse: “A LBV é como o Flamengo, tem milhões de adeptos sem carteira social”. Ora, eu lido com esse povo, eu sou povo, nasci povo, morrerei povo. Eu sou povo até a medula dos ossos. Eu posso dizer que Legionário mesmo já são 10 milhões. E não faço por menos.

P – Nesse caso, irmão-operário Zarur, você é favorável à emenda eleitoral que pretende condicionar a vitória do candidato à Presidência da República ao número de votos por maioria absoluta?
R – Eu aceito tudo que eles quiserem. Porque de qualquer maneira eu ganharei isso.

P – Em 1945, você era locutor de rádio e diretor de um programa de teatro policial. O que aconteceu que lhe fez mudar o rumo de uma carreira promissora começada com sacrifícios, irmão-operário Zarur?
R – Realmente, fui locutor e sempre acabava sendo locutor-chefe, em todas as rádios em que fui locutor, como também qualquer que fosse a função eu acabava sendo o chefe do setor em que eu trabalhasse. Isso era uma fatalidade. Durante muito tempo eu fiz o teatro policial. Eu lancei o policial no Brasil em 1937. O Getúlio deu um golpe de lá e eu dei outro cá. Porque eu precisava conhecer todos os processos da malandragem humana. Eu aprendi todas as formas de velhacaria. Em 25 anos eu aprendi tudo o que é possível aprender. DEUS me fez correr o mundo, conhecer tudo. Geralmente há um falso pressuposto de quem prega Evangelho é otário. Necessariamente otário. Mas quem quiser me enganar precisa nascer três vezes. Ora, a universidade da calçada, a universidade da esquina, a universidade do bas-fonds ensinam muita coisa. E, como JESUS é muito sábio, não deixou que eu despertasse para a minha missão antes de completar esse aprendizado prático na grande escola chamada mundo. Eu corri tudo que é escola religiosa, sei tudo que é religião, até que em 1948 recebi uma ordem espiritual genuína de JESUS: “Está na hora de você começar aquele trabalho que você combinou”. E como eu sou Soldado de DEUS, não discuti as ordens do Alto. Assim como JESUS me abria caminho para a LBV, abriu o caminho para o PBV. E eu fui lançado candidato pela vontade do povo.

P – Quando você for Presidente da República, continuará dando sopa aos pobres?
R – Aos pobres, sim. Aos ricos, não.

P – Qual o seu programa de governo, irmão-operário Zarur?
R – Nem tudo nós podemos divulgar fora do tempo. Estou aguardando o registro da minha candidatura, aguardando o registro da PBV[1]. Eu parto de um ponto completamente diverso de todos os candidatos já lançados. Eu tenho dito e repetido esta sentença do Filho de DEUS: “Conhecerei a Verdade e a Verdade vos libertará”. Como é que vamos saber o que é certo e o que é errado? Conhecendo a Verdade. Que Verdade? A Verdade das Leis Divinas que regem o sistema planetário de que faz parte a nossa Terra. Ora, de que ponto de partida eu vou sair para esta campanha? De JESUS, que é o centro de tudo isto, fundou o planeta, criou o Brasil. Muita gente pensa que o Brasil é criação de Pedro Álvares Cabral. JESUS formou o planeta, JESUS formou o Brasil – só Ele, portanto, pode me dizer o que está errado. Ou será que eu vou perguntar isso ao Lacerda?

P – A Revolução melhorou ou piorou a sua situação de candidato?
R – Não alterou nada, porque a minha situação quem regula é DEUS. Os homens podem fazer o que quiserem. Eu continuo exatamente o que era e continuarei sendo o que DEUS quiser de mim.

P – Você é favorável à cassação de mandatos, irmão-operário Zarur?
R – Não. Por mim não cassavam nada. Essa é que é a verdade. Eu gosto é de correr o páreo na bucha, com todos os presentes. Eu quero é ali, na vontade do povo. Pela minha vontade, só os criminosos seriam condenados: os ladrões, depois de devidamente provada a sua ladroagem. Mas esse negócio de achar que deve cassar porque deve cassar, por que não vão cassar no mato?

P – Como se sente sem a concorrência de Juscelino Kubitschek?
R – Eu lamento a ausência de Juscelino. Eu queria correr com ele, mas já que não deixaram, o que é que eu vou fazer? Não foi pela minha vontade e diante de DEUS eu sou inocente. E diante do povo da minha pátria estou inocente também.

P – E quanto ao Governador Carlos Lacerda. Você, irmão-operário Zarur, não teme a inteligência e a língua do homem que derrubou Getúlio?
R – Eu não temo a língua de ninguém. A língua é um músculo simpático que cada um usa como quer. Eu não tenho medo de nada, muito menos de homem. Se nada me acusa, se a minha consciência está tranqüila, não temerei a língua de nenhum linguarudo.

P – O seu governo será reformista?
R – Claro. Vejo muita gente afobada, querendo falar em reforma eleitoral. Que valor tem isso? Reforma agrária, reforma tributária, que valor tem isso? Tudo isso só tem razão de ser depois da primeira reforma que é a reforma da ignorância. Sem esta, as outras não existirão. Esta é a primeira operação reformista. O resto é alta demagogia.

P – Qual a sua opinião sobre os outros candidatos, irmão-operário Zarur?
R – Os que estão aí? Tenha paciência, mas não me convencem. Se houvesse um candidato realmente indicado para esta tarefa, eu iria humildemente ser o secretário dele. Mas se eu sou candidato é porque eu sei que o único homem capaz de fazer o Brasil andar sou eu. O povo me chamou, JESUS me chamou e eu estou no páreo.

P – Já pensou nos nomes que comporão o seu ministério?
R – Isso ainda é uma questão de tempo. Até já fizeram muitas piadas a respeito de meus ministros, que seriam São Pedro, São Paulo, São Tiago, São João, São Mateus, etc. Sabe lá o que é isso? Em verdade lhes digo que o Grande Ministério já está formado lá no Alto. Quanto ao ministério daqui debaixo, não quero ainda adiantar nenhum nome.

P – Caso seja eleito, a quem entregará a Presidência da LBV?
R – A ninguém. Pretendo acumular os dois cargos.

P – Você é um homem rico, irmão-operário Zarur?
R – Da Graça de DEUS, sim.

P – Pode fazer agora, a sua declaração de bens?
R – Posso. Tenho as ações da Rádio Mundial, conforme declaração já entregue ao Ministério da Fazenda. E não tenho mais nenhuma propriedade. Se provarem ao contrário, me demito da Presidência da LBV. Nada, eu não tenho nada... exceto a minha gravata, a minha cueca, o meu cinto, o meu terno, os meus sapatos e o meu relógio. Nada mais.

P – É verdade que recebeu a cordial visita de um oficial do Conselho de Segurança Nacional dias depois da Revolução?
R – Sempre há inimigos mesquinhos, infusórios[2]treponemas pensantes. E esses treponemas, esses infusórios fizeram uma denúncia. Que eu estava engajado no esquema do governo deposto. Que era só ir à sede da LBV para descobrir as gravações subversivas. Ora, as autoridades andavam atrás dos subversivos, corruptos e corruptores. Então me visitaram a rádio á 1:00 hora da manhã, quando eu lá não me encontrava. Esgravataram tudo: gavetas, fitas, tudo. Afinal, me glorificaram porque não encontraram um rabo de palha. Nunca tivemos subvenções oficiais, nem mamatas. A LBV sobrevive unicamente com o dinheiro honrado dos Legionários. Milionários nunca nos deram donativos. Nunca vendi a minha opinião. Portanto, as autoridades militares fizeram bem em cumprir o seu dever, pois glorificaram a honestidade do Irmão Zarur.

P – Por falar em vender opiniões, é verdade que foi procurado por emissário de um candidato para um “acordo político”?
R – É verdade. O que aconteceu, primeiramente, foi que um elemento de gabarito do staff de um certo candidato quis me comprar. Eu receberia uma elevada quantia, um prédio, ondas curtas para rádio e outras vantagens para servir ao homem. Eu não aceitei. Veio então sedução para que eu concorresse a vice, com vitória garantida. Mas eu não nasci para vice. Para que ser vice e ficar rezando para DEUS matar o titular. Todo o vice deve ficar rezando para o outro cair duro. Eu não tenho vocação para rezar para ninguém morrer. Pelo contrário, eu desejo a vida até mesmo de meus mais ferrenhos adversários. Quem tem vocação para vice geralmente é medíocre, não tem autonomia mental para nada. Vou concorrer sem vice. Para que vice? Nem vice, nem vice-versa, não quero nada com vice.

P – Pode adiantar o nome do figurão que lhe fez essa promessa?
R – Como ele já faleceu, respeitemos os mortos...

P – Se for eleito, acredita, sinceramente, que os militares lhe entregarão o poder?
R – Sim. E com que prazer. Sabe por quê? Eu respeito os militares, pois, afinal, eles são a reserva moral da pátria. Desde cedo, eles são obrigados a pensar em pátria: salvar a pátria, defender a pátria, continência à pátria. Mas, naturalmente, os militares já cumpriram a sua parte. Eu acho uma imprudência os militares continuarem porque eles não têm a prática necessária no terreno civil. Nem devem se meter nisso. Porque a tradição tem sido a subordinação do poder militar ao poder civil. Mas não é só. Os militares andam preocupados em que a Revolução triunfe nas obras, que o Brasil vá para adiante sem corruptos e sem corruptores. O poder militar interfere na hora de meter o bisturi. Tirou o carnegão, tirou a podridão, fecha a ferida e devolve o corpo ao civil. Comunistas, mesmo, só encontraram até agora cinco. O negócio é contra a corrupção, contra os ladrões. E a política é a maior mina de ladroagem neste país. Nesse terreno, eles fizeram uma grande limpeza. Muito vagabundo está trabalhando agora. Tudo isso nós devemos aos militares. Mas, se eles quiserem realmente um homem para dar continuidade a isso, para limpar o Brasil e bota-lo para funcionar, SÓ HÁ UM NOME: ZARUR.

(Revista Fatos & Fotos de 11/07/1964. Grifo nosso).

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[1] O PARTIDO DA BOA VONTADE, o PBV, foi registrado em Brasília pelo Superior Tribunal Eleitoral, no dia de São João Batista: 24 de junho de 1965. O único nascido em plena Revolução.
[2] INFUSÓRIO – Protozoario provido de cílios.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional essa reportagem sobre o Alziro Zarur, homem de uma seriedade impar, jamais jogou palavras ao vento. Pessoa de intelectualidade universal, compenetrado no seu ideal maior, que é pregar a palavra de Deus pela simplicidade do Amor. Revelou o Novo mandamento de Jesus exemplificando durante toda a sua trajetória nesta Pátria chamada Brasil. Meu sincero agradecimento a este apóstolo da Verdade, grande brasileiro Alziro Zarur. Dilma Azeredo.

Anjuaral disse...

Este homem foi o que veio para realizar as profecias ditadas em comunicações espíritas publicadas na Reveu Espirit, na época de Kardec. Digo mais, ele era o própio Allan Kardec REENCARNADO, o PRECURSOR da volta de Jesus e, só não foi presidente do Brasil, porque os Administradores Espirituais da pátria perceberam que aquele período, do golpe militar, não era a hora para um enviado do Cristo assumir um governo humano, o que se dará, em definitivo depois de 2020, quando "O QUE FOI PROMETIDO" assumir o Governo Federal. Deus Está Presente, e Viva a Jesus!