
JESUS (Evangelho de João, X: 14-16)
Comentando estas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, escreveu Allan Kardec em "A Gênese":
"Por estas palavras, Jesus claramente anuncia que os homens se unirão, um dia, por uma crença única; mas como poderá efetuar-se essa união? Difícil parece isso, tendo-se em vista as diferenças que existem entre as religiões, o antagonismo que elas alimentam entre seus adeptos, a obstinação que manifestam em se acreditarem na posse exclusiva da Verdade. Todas querem a unidade, mas cada qual se lisonjeia de que essa unidade se fará em seu proveito, e nenhuma admite a possibilidade de fazer qualquer concessão, no que respeita ás suas crenças.
"Entretanto, a unidade se fará em religião, como já tende a fazer-se socialmente, politicamente, comercialmente, pela queda das barreiras que separam os povos, pela assimilação dos costumes, dos usos e da linguagem. Os povos do mundo inteiro já confraternizam como províncias de um mesmo império. Pressente-se essa unidade, e todos a desejam. Ela se realizará pela força dos fatos, porque há de tornar-se uma necessidade, para que se estreitem os laços da fraternidade entre as nações. Far-se-á pelo desenvolvimento da razão humana, que se tornará apta a compreender a infantilidade de todas as dissidências, e pelo progresso da ciência, a demonstrar, cada dia mais, os erros que causam tais dissidências. Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto da sua ignorância das Leis Divinas, a ciência não poderá destruir o que é obra de Deus, a eterna Verdade. Removendo os acessórios, ela prepara os caminhos da unidade.
"A fim de chegarem à unidade, as religiões terão de se encontrar num campo neutro, se bem que comum a todas. Para isso, todas terão de fazer concessões e sacrifícios mais ou menos importantes, de acordo com a multiplicidade dos seus dogmas particulares. Mas, em virtude do processo de imutabilidade que todas professam, a iniciativa das concessões não poderá partir do campo oficial: em lugar de tomarem no alto o ponto de partida, to-ma-lo-ão em baixo, por iniciativa individual.
"Desde algum tempo, um movimento se vem operando de descentralização, tendente a adquirir irresistível força. 0 princípio da imutabilidade, que as religiões sempre consideraram uma égide conservadora, tornar-se-á elemento de destruição, visto que, imobilizando-se, ao passo que a sociedade caminha para a frente, os cultos serão ultrapassados e depois absorvidos pelas correntes das idéias de progresso.
"A imobilidade, em vez de ser uma força, torna-se uma causa de fraqueza e de ruína para quem não acompanha o movimento geral; ela quebra a unidade, porque os que querem avançar se separam dos que se obstinam em permanecer parados. 0 que alimenta o antagonismo entre as religiões é a idéia, generalizada por todas elas, de que cada uma tem o seu deus particular e a pretensão de que este é o único verdadeiro e o mais poderoso, em luta constante com os deuses dos outros cultos e ocupado em lhes combater a influência.
"Quando os religiosos se convencerem de que só existe um Deus no Universo e que, em definitivo, Ele é o mesmo que eles adoram sob os nomes de Jeová, Alá ou Deus; quando estiverem de acordo sobre os atributos essenciais da Divindade; então, compreendendo que, sendo um único o Ser Supremo, uma única tem de ser a Vontade Suprema, dar-se-ão as mãos umas às outras, como servidores de um mesmo Senhor e filhos de um mesmo Pai."
Esta página de Kardec é verdadeiramente profética. Explica a impressionante previsão de Jesus, conforme se lê no Evangelho segundo São Mateus, capítulo XXV, versículos 31-34, e 41: "E, quando o Filho de Deus voltar, e todos os santos anjos com Ele, então se sentará no trono de sua glória; e todas as nações serão reunidas diante d'Ele, para serem julgadas: e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então dirá aos que estiverem à sua direita: "Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo". E dirá aos que estiverem á sua esquerda: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo do inferno, preparado para o diabo e seus anjos."
Tudo isso é muito claro, na palavra do próprio Cristo: no Juízo Final, no fim do ciclo iniciado pela chamada Era Cristã, os bons (OS DE BOA VONTADE) formarão um só rebanho para um só Pastor. Ovelhas humanas, de todas as crenças e credos, usando do livre-arbítrio que Deus lhes conferiu desde a fundação da Terra, ouvirão a voz do Pastor, espontaneamente, não por imposição ou ameaça de quem quer que seja.
Ora, os apóstolos e as ovelhas de Boa Vontade estão no Judaísmo, no Catolicismo, no Protestantismo, no Espiritismo, no Esoterismo, em todas as correntes religiosas e filosóficas do mundo. Mas as ovelhas de má-vontade e os falsos profetas também estão em todas essas religiões e filosofias. Como entender a profecia de um só rebanho para um só Pastor?
Muito simples, à luz do bom senso: o rebanho único será formado pelas criaturas de Boa Vontade que se encontram APARENTEMENTE SEPARADAS, isto é, no Catolicismo, no Protestantismo, no Espiritismo, no Esoterismo, em todas as religiões e filosofias espalhadas pelo mundo. Os bons estão em todas.
Quanto aos da esquerda de Jesus (vide Ramatis), não poderão fugir ao fogo do inferno, isto é, do sofrimento, porque a semeadura é livre mas a colheita é obrigatória. Cada um receberá exatamente de acordo com suas obras. Esse fogo, esse inferno, ou que outro nome tenha, dura enquanto dura a má-vontade de cada um, patenteada na transgressão das Leis Divinas, que são as leis naturais. É lógico, é claro, é incontestável que — uma vez paga a dívida, até ao último ceitil – os bodes serão ovelhas.
Até lá, que ninguém se iluda, porque de Deus ninguém zomba, como diz o Apóstolo São Paulo. Aos homens é possível enganar, mas a Deus ninguém engana. Deus manda o seu Sol para os bons e para os maus; faz chover sobre os justos e os injustos; mas não perdoa nada que infrinja a Lei de Justiça. Seu perdão consiste em dar novas oportunidades para que os bodes, pela prova da dor, se transformem em ovelhas. Sim, a Paz Divina só é concedida aos de BOA VONTADE, como o atestam, aos que têm olhos de ver, os fatos de cada dia, cada hora e cada instante. O contrário seria a negação da Justiça Divina, que se manifesta, inexorável, na Lei de Causa e Efeito.
Alziro Zarur.
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