segunda-feira, 23 de junho de 2008

ZARUR RESPONDE:
PERFEIÇÃO PELO MERECIMENTO

P – Desejo que me esclareça o seguinte: se Deus é tão bom como dizem, por que não nos faz de uma vez perfeitos?

R – A resposta pode se dada em poucas palavras: Qual seria, então, o nosso merecimento? Ora, todos são criados simples e ignorantes. Todos são absolutamente iguais diante de Deus. Por isso, todos partem da estaca zero em busca da perfeição, pelo seu próprio esforço. A propósito, vale a pena ler alguns trechos do livro “Teresa de Ávila” de William Thomas Walsh: “...Mas isto não era ainda o pior. Os sofrimentos meramente físicos, para alguém tão heróico, que os pedia, eram bagatelas em comparação com os assaltos dessa luta titânica da alma que todos os Santos, cedo ou tarde, tiveram que sofrer.” “E para que a grandeza das revelações não me ensoberbecesse (escreveu o Apóstolo Paulo), foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte”. E outra vez: “Nós não temos de lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades do inferno, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares”. Teresa tinha começado a entender o significado destas palavras. Quando Deus convida uma alma a segui-lo às alturas do amor, e a alma aceita, não se transforma instantaneamente de um ser humano (com todas as suas fraquezas e paixões carnais) num anjo de perfeição. Pelo contrário, é então que começa a encontrar dificuldades e tentações perigosas. Para conquistar a glória de uma ressurreição que faz com que, já neste mundo, se antegoze a bem-aventurança, a alma tem de conhecer a fome e as privações, a incompreensão e o abandono, a amargura e a solidão de um Gethsemani onde o próprio Deus PARECE QUE A DESAMPAROU. Tem de conhecer a crucificação, mais ou menos prolongada, dos desejos carnais, das ambições e das vaidades. E assim a pobre alma luta e se afadiga, levanta-se e logo cai; cai de novo e se ergue; e, da medonha crise em que mergulhou, emerge para outra crise ainda mais terrível, parecendo a cada instante estar em perigo de se perder no abismo da derrota e da morte definitiva. Nem é este o único perigo da traição e perversidade da natureza decaída de cada um de nós. Os demônios tomam partido contra a alma que ousa pretender dignidade por eles perdida. Descobrem-lhes as fraquezas e se aproveitam delas, e – se isso não dá resultado, gabam-lhe as virtudes, tentando transformá-las em vícios. E, EM TUDO ISSO, QUE FAZ DEUS, - pergunta o cético. Por que, quando a alma se voltou para Ele, consentiu em que ela fosse tratada tão cruelmente? Sem dúvida, o Onipotente pode derrubar tudo quanto se oponha às aspirações da alma e ligá-la, triunfalmente a si. Mas, nisso, haverá um elemento de compulsão contra a própria alma, A ALMA NÃO SERIA LIVRE E, PORTANTO, NÃO SERIA SEMELHANTE A DEUS. Ora, Deus só quer que se una a sua divindade o que lhe for semelhante. Deus não trata as almas como o escultor trata o mármore: não esculpe a sua idéia como quem desbasta um material frio. O destino da alma humana não é a segurança morta de um autômato – que é a escravidão – mas a viva e alegre LIBERDADE DE UM SER DIVINO. A sua liberdade consiste na perfeita harmonia da sua vontade com a de Deus. A alma pode recusar-se a isso. Mas, se livremente o aceita, é através do sofrimento que há de progredir no caminho que escolheu, até que tenham sido eliminados os fatores que a escravizam à matéria e ao mal. A razão por que é necessário à alma para atingir a união com Deus, atravessar esta noite escura da mortificação dos desejos e recusa dos prazeres em todas as coisas – escreveu São João da Cruz – é que todas as afeições que ela tem pelas criaturas são, aos olhos de Deus, PURAS TREVAS. E, quando a alma se reveste destas afeições, não é capaz de ser possuída e iluminada pela forte luz de Deus, a não ser que primeiro as afaste de si, pois a luz aborrece as trevas... Por tudo isso é que Teresa tinha particular receio dos santos estúpidos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa Doutrina é muito especial, precisar ser estudada a fundo, principalmente, nas entre linhas. Dilma.

Anônimo disse...

Este texto é de uma clareza meridiana, quando trata do caminho a ser seguido, com todos os seus obstáculos, por todos aqueles que se candidatam a viver a verdadeira liberdade, que consiste em viver em perfeita HARMONIA COM O PENSAMENTO DE DEUS.

Elson